Uma pesquisa publicada no periódico científico British Medical Journal (BMJ) revelou que o uso de analgésicos, como ibuprofeno, pode aumentar o risco de ataques cardíacos. O estudo aponta que a probabilidade de problemas no coração é maior até o primeiro mês de uso contínuo, e que os riscos aparecem já após a primeira semana.
De acordo com o estudo, a chance de ataque cardíaco pode oscilar entre 24% e 58% dependendo do tipo de analgésico anti-inflamatório utilizado. A dose também pode influenciar no aumento do risco, ou seja, quantidades maiores estão associadas a uma chance maior de problema no coração. Com chances maiores de ataque cardíaco para o consumo elevado da droga, como doses de ibuprofeno de mais de 1200mg por dia, 100 mg de diclofenaco ou 750mg de naproxeno.
Os pesquisadores revisaram estudos feitos com 446.763 pessoas com idade entre 40 e 79 anos, no Canadá, na Finlândia e no Reino Unido. Nesse universo, 61.460 tiveram ataques cardíacos. Foram observados na pesquisa pacientes que receberam prescrição médica, e não aqueles que adquiriram o remédio por conta própria. Os centistas destacam, no entanto, que outros fatores além do medicamento podem estar envolvidos.
Pesquisas anteriores já tinham mostrado que anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) poderiam aumentar o risco de ataques cardíacos. No entanto, especificidades como o efeito da dose, o momento no qual o risco cresce, o tempo de duração do tratamento e a comparação entre os tipos de medicamentos não tinham sido bem exploradas.
"Considerando que o risco de infarto agudo do miocárdio é identificado já na primeira semana de uso e aparece maior no primeiro mês de tratamento com doses mais elevadas, os prescritores devem considerar a ponderação dos riscos e benefícios dos anti-inflamatórios antes de instituírem o tratamento", afirmaram os pesquisadores no estudo.
A pesquisa indica que há mais de 90% de chance de que todos os anti-inflamatórios do tipo estejam relacionados ao risco de ataque cardíaco. A probabilidade de problemas cardiovasculares aumenta de acordo com o remédio. O que apresentou menor risco foi o celecoxibe (Celebra) com 24% de probabilidade de problemas cardiovasculares. Em seguida, aparece o ibuprofeno (Advil) com 48% de chance; diclofenaco (Voltaren) com 50%; naproxeno (Flanax) com 53%. A maior taxa de risco foi verificada no rofecoxib, que foi retirado do mercado em 2014, com 58%.
Segundo a pesquisa, o risco de ataques cardíacos aumenta quando há uso de doses mais altas e durabilidade do tratamento. Mas, após um mês de uso, não foi registrado aumento significativo na chance de apresentar problemas cardiovasculares.
O levantamento, no entanto, foi visto com ressalvas por parte da comunidade médica. Diretora do Real Colégio Britânico de Clínica Geral, Helen Stokes-Lampard pondera que é perigoso rejeitar imediatamente os analgésicos.
— Estas drogas podem ser eficazes no fornecimento de alívio da dor a curto prazo para alguns pacientes — sublinha. — É importante que qualquer decisão de prescrever seja baseada nas características individuais do paciente, e que os resultados sejam revistos regularmente.